Primeira empreitada de Joel Coen sem seu irmão Ethan, cuja parceria já rendeu inúmeros e premiados frutos como “Bravura Indômita”, entre outros.
Aqui ele adapta com fidelidade a peça de Shakespeare, transformando sua própria arte num filme de arte. Repito a palavra arte duas vezes, porque, apesar de tudo ser arte, chamamos “filme de arte” quando sua linguagem + narrativa + execução foge do comercial (mainstream) e faz uma proposta diferenciada com uma peculiar experiência sensorial. Isso não significa que um filme de arte possa ser melhor ou pior que um comercial. Neste caso há seus prós e contras.
A película foi filmada toda em preto e branco (em escalas de cinza) com a temperatura das duas cores variando entre as cenas. Também foi filmado tudo em estúdio, num galpão fechado. A soma dessas duas características dá uma interessantíssima áurea teatral que proporciona também aquela tal experiência diferenciada. Os ângulos e posicionamento das câmeras fornecem uma agradável disposição geométrica das cenas, com tudo fazendo parte dessa abordagem áudio-visual. Em muitos momentos lembra o trabalho feito por Robert Rodriguez em “Sin City”, apesar de ambos usarem técnicas completamente diferentes.
Denzel Washington de “Pequenos Vestígios” e Frances McDormand de “Crônica Francesa” (que por sinal vem escolhendo seus projetos a dedo) dão um show de atuação e de longe se sobrepõe a qualquer outro coadjuvante.
Os diálogos shakespereanos que são talvez a maior dificuldade do espectador médio, nem tanto de entendimento, mas de apreciação. Funcionam sim como uma aula de literatura e logicamente cabem com perfeição na narrativa. Só que pela falta de uma narração em off, alguns dos cortes de são um tanto abruptos e pulam de um ato para outro sem necessariamente uma explicação ou conexão narrativa mais próxima, o que às vezes passa impressão de descontinuidade.
“A Tragédia de Macbeth” exige uma apreciação da arte e sensibilidade que todo mundo tem, mas nem todo mundo pode estar disposto a dar no momento. Tem uma abordagem gráfica e design de produção impecáveis, excelentes atuações, mas ainda há algumas quebras de narrativa que, para se manter leal ao texto original, não foram ajustadas.
Curiosidades:
– 98% do figurino foi criado em tons de preto e branco também. Apenas partes de alguns vestidos de Lady Macbeth tem cores.
– Para ajudar em algumas cenas partes das roupas era pintadas de preto para fortalecer as sombras.
– Há apenas uma tomada externa (parte da última cena). Todo o resto foi filmado num galpão fechado.
– Segunda vez que Frances McDormand faz o papel de Lady Macbeth. A primeira vez foi numa peça de teatro em 2016.
– Só há uma frase no filme que não faz parte da peça original, mas sim de outra peça de Shakespeare chamada “Noite de Reis”.
Ficha Técnica
Elenco:
Denzel Washington
Frances McDormand
Alex Hassell
Bertie Carvel
Brendan Gleeson
Corey Hawkins
Harry Melling
Miles Anderson
Matt Helm
Moses Ingram
Kathryn Hunter
Scott Subiono
Brian Thompson
Lucas Barker
Stephen Root
Robert Gilbert
Ethan Hutchison
James Udom
Richard Short
Sean Patrick Thomas
Ralph Ineson
Jefferson Mays
Olivia Washington
Susan Berger
Wayne T. Carr
Jacob McCarthy
Nancy Daly
Direção:
Joel Coen
Produção:
Joel Coen
Robert Graf
Frances McDormand
Fotografia:
Bruno Delbonnel
Trilha Sonora:
Carter Burwell
