A Disney vem amargando uma maré ruim ao espremer seus produtos premium, como as franquias Marvel e Star Wars. Até mesmo as ótimas animações da Disney e Pixar estão apenas estáveis. Um campo pouco explorado e que a Disney nunca obteve muito sucesso foram histórias independentes, isto é, fora do panteão de seus carros-chefes. Por isso é surpreendente que “A Jovem e o Mar” seja uma das grandes produções do estúdio este ano e que, mesmo com alguns clichês conhecidos do ratinho Mickey, consegue emocionar e seguir um caminho diferenciado.
O filme fala da história da primeira mulher a atravessar o Canal da Mancha, braço de mar que faz parte do oceano Atlântico e que separa a ilha da Grã-Bretanha do norte da França e une o mar do Norte ao Atlântico.
O diretor Joachim Rønning, já camarada do estúdio por ter dirigido filmes das franquias “Malévola” e “Piratas do Caribe”, chega aqui com budget de ouro para reconstruir a época pós Primeira Guerra Mundial, focando em Trudy Ederle (Daisy Ridley de “A Filha do Rei do Pântano”) desde a infância quando quase morre de sarampo, ficando meio surda e como ela tomou gosto por nadar, o que a fez batalhar por ter um lugar no esporte, até sentir o chamado para o desafio de atravessar o canal da mancha.
Ridley está apaixonante e impecável e, de longe, já crava uma das melhores atuações da sua carreira. Seu olhar de permanente descoberta, como uma eterna criança ou como teve uma segunda chance de vida, conquista de cara o espectador que nem sente o fato do resto do elenco ser em grande maioria desconhecido.
O diretor estabelece um ritmo bastante dinâmico para um drama com um design de produção de primeira grandeza e ainda pautado pela trilha sonora da jovem atriz e compositora Amelia Warner (conheça seu trabalho como atriz em “Ecos do Mal”) que adorna toda a trama com suas belas melodias.
A fotografia de Oscar Faura (“Jurassic World – Reino Ameaçado“) combinada com os efeitos especiais discretos, mas de ponta, fecham com chave de ouro a combinação técnica para que a narrativa ganhe corpo e realismo.
“A Jovem e o Mar” tem uma história transformadora e que mostra o empoderamento feminino sem demagogia e com muita arte, merecedora de pelo menos algumas indicações, e com um trunfo da surpreendente Daisy Ridley fazendo muito mais do que se fosse uma mestra Jedi.
Curiosidades:
- Há três pontos bastante relevantes que foram drasticamente mudados da história real para propósitos dramáticos:
- No filme Trudy vai para as Olimpíadas e só ganha medalhas de bronze em natação. Na realidade ela também ganhou uma medalha de ouro, além de prata e bronze.
- No filme Trudy faz sua segunda e derradeira tentativa de atravessar o canal poucos dias depois da primeira tentativa e isso sem voltar para os EUA. Na realidade, o espaço entre as duas tentativas foi de 1 ano e ela voltou para EUA e treinou ainda mais para conseguir.
- Há uma cena em que o organizador das Olimpíadas diz que finalmente vai colocar mulheres na natação. Só que as mulheres já participavam da competição nessa modalidade desde 1912, sendo que o filme se passa em 1924.
- Um dos nadadores que aparece no filme é atleta de verdade e segurou o recorde de travessia mais rápida do Canal da Mancha de 2007 a 2012.
Ficha Técnica:
Elenco:
Daisy Ridley
Tilda Cobham-Hervey
Stephen Graham
Kim Bodnia
Jeanette Hain
Glenn Fleshler
Sian Clifford
Christopher Eccleston
Ethan Rouse
Olive Abercrombie
Lilly Aspell
Raphael J. Bishop
Alex Hassell
Alexander Karim
Direção:
Joachim Rønning
História e Roteiro:
Jeff Nathanson
Produção:
Jerry Bruckheimer
Jeff Nathanson
Chad Oman
Fotografia:
Oscar Faura
Trilha Sonora:
Amelia Warner