A história real do senhor de 90 anos que em 2014 foge da casa de repouso onde vive na Inglaterra para ir até a França participar da comemoração dos 70 anos do dia D (quando as tropas aliadas na 2ª Guerra Mundial atacaram a praia da Normandia, marcando a virada de jogo do ocidente contra Hitler) e acaba sendo notícia nacional é contada pelo diretor Oliver Parker (“O Retorno de Johnny English”) que começou meio trôpego, mas colocou a história nos eixos antes do segundo ato, graças ao carisma e sutileza de seu casal de protagonistas interpretado por Michael Caine (“Best Sellers”) que já disse em entrevistas que está se aposentando, sendo este seu último filme e a saudosa Glenda Jackson que já fez um par romântico com Caine em 1975 no filme “A Inglesa Romântica” e agora retorna também em seu último papel, pois faleceu semanas depois das filmagens concluídas.
Apesar do casal se chamar Bernard e Irene, no filme eles só se chamam pelos seus apelidos, Bernie e Renée. Há certa dificuldade de entender as motivações de Bernie em ir para França, principalmente não compartilhando explicitamente seu plano com Renée, e chega um momento que isso parece não ter mais importância, mostrando ao espectador que os valores de um casal que atinge uma idade tão avançada juntos nem sempre são os mesmos de quando se começou.
O diretor empurra algumas tramas paralelas como o trauma de guerra de Bernie ou o amigo que ele faz no meio do caminho que também tem seus problemas e demais desdobramentos da tal viagem, mas o cerne da história e que é, de longe, dominante é a relação entre os dois, principalmente como eles se comportam juntos e à distância.
O que mais emociona é a fragilidade dos personagens que facilmente se vê traduzida pelos próprios artistas, ambos na casa dos 90 anos e portadores das mesmas dificuldades, como também na própria força que eles tem para confrontar a brevidade da vida naquele momento e a conformidade necessária para a situação.
Espremendo o filme, tira-se facilmente uns 20 minutos desnecessários, mas que também não machucam, sobrando a contemplação de um dos temas mais delicados de qualquer história: a vida na velhice próximo da morte, o que se realizou e com quem se está. Caine e Jackson dão um show de interpretação e sinceridade e o diretor Oliver Parker soube extrair o melhor dessa relação e até mesmo das situações menos representativas.
“Grande Fuga” é um singelo filme do subgênero “terceira idade” que acerta bem mais do que erra e dá uma aula de vivência e humanidade.
Curiosidades:
- No filme René diz que tem uma doença e que deve morrer primeiro que Bernie. Na realidade Bernie morre primeiro que Renée. Por outro lado, foi a atriz Glenda Jackson que faleceu primeiro, com Michael Caine ainda vivo.
- Michael Caine disse que só faria o filme se um de seus melhores amigos, o também ator John Standing também participasse. Standing interpreta o senhor que faz amizade com Bernie durante a viagem. Ambos estivera no filme A Águia Pousou (1976). O ator Wolf Kahler que faz o alemão na mesa do bar, também participou desse filme junto com a dupla.
- Michael Caine é de direita politicamente e Glenda Jackson foi de esquerda, mas sempre se deram muito bem e tiveram uma ótima amizade. Jackson pausou sua carreira por décadas, pois virou política atuando no parlamento britânico.
Ficha Técnica:
Elenco:
Michael Caine
Glenda Jackson
Ann Queensberry
Danielle Vitalis
Jackie Clune
Victor Oshin
Brennan Reece
Direção:
Oliver Parker
História e Roteiro:
William Ivory
Produção:
Robert Bernstein
Fotografia:
Christopher Ross
Trilha Sonora:
Craig Armstrong
