A Estrada (“The Road”, EUA, 2009) ***NOS CINEMAS***

Cataclisma? Aquecimento global? Fim do mundo? Poucos sobreviventes que na sua maioria se tansformam em sádicos assassinos e até em canibais? Tudo isso o espectador já viu antes desde “Mad Max” até o recente “O Livro de Eli“, rendendo assim de boas a ótimas obras de ação. Mas não… o público ainda não viu tudo. Talvez nunca o drama de sobreviventes de uma catástrofe mundial tenha sido retratado com tanto realismo e honestidade quanto em “A Estrada”.

O cenário é apocalíptico como conhecemos, mas ao contrário das outras produções, aqui não há a mínima esperança. O mundo definha aos poucos assim como seus poucos sobreviventes. Não há mais comida e as pessoas morrem de inanição ou se suicidam para que a passagem seja mais rápida. Viggo Mortensen (“Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei“) luta contra esse horrendo destino junto a seu filho percorrendo uma estrada até a costa, vagando em busca de comida, enquanto deve evitar ao máximo gangues de ladrões e canibais.

A dupla devora as cenas de forma visceral, inclusive o novato Kodi Smit-McPhee. A grande sacada é que eles são pessoas extremamente comuns em busca de sobrevivência. Pode-se dizer até que são frágeis e o próprio medo da morte é a força motriz para vencer os obstáculos. A química entre os dois atores é perfeita e nunca acreditou-se numa dupla de pai e filho como agora. A narração em off, cansada do protagonista também diz muito sobre o relacionamento dos dois. A ponta de luxo de Charlize Theron, de “Hancock” e linda até no fim do mundo é de fundamental importância para que se estabeleça a dinâmica entre os personagens.

E o que dizer da magreza esquelética de Mortensen? Esse é apenas um dos milhões de cuidados que o diretor John Hillcoat (“A Proposta“) teve na realização da obra. A direção de fotografia chega a impressionar e está nas mãos de Javier Aguirresarobe que até já trabalhou com Woody Allen em “Vicky Cristina Barcelona“, sem deixar de citar o excelente design de produção. Alguns enquadramenos são perfeitos como a gota caindo no espelho na qual reflete o rosto do nosso herói, ou a parte quando ele descobre um piano, mas a câmera desce lentamente até que entendamos o que é.

Continuando nos aspectos técnicos, chega a ser emocionante a combinação da atuação com a trilha sonora dos já parceiros de Hillcoat, Warren Ellis e o cantor Nick Cave, desde “A Proposta“. E fecha-se com efeitos especiais discretos, mas de extrema eficiência.

Baseado no livro de Cormac McCarthy, “A Estrada” talvez seja a única produção do gênero que tenha descartado a ação para focar num intenso drama, colocando pessoas no limiar do desespero real onde a platéia deve experimentar todas as agruras do que se passa na tela. Mesmo com um desfecho que pudesse ser melhor trabalhado, é um filme notável e recomendadíssimo. Com o aviso: é drama, mas não ação.

[rating:4]


Ficha Técnica

Elenco:
Viggo Mortensen
Kodi Smit-McPhee
Robert Duvall
Guy Pearce
Charlize Theron
Michael K. Williams

Direção:
John Hillcoat

Produção:
Paula Mae Schwartz
Steve Schwartz
Nick Wechsler

Fotografia:
Javier Aguirresarobe

Trilha Sonora:
Nick Cave
Warren Ellis

ELENCO

DIREÇÃO

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Respostas de 3

  1. cara, sempre fui fã de filmes apocalipticos, mas ultimamente parecia que já tinha visto de tudo sobre esse estilo, assim como já acontece com os filmes de zumbis, mas nao, ” a estrada” veio pra ser o diferencial.

    o filme é perfeito do inicio ao fim. nao acho que precise ficar estendendo finais, na verdade, nao acho que tenha algo mais para estender, simplemente acaba.

    As atuaçoes sao perfeitas, e emocionam sem precisar de muitas falas. os gestos, os olhares, o cansaço que nos é passado é algo tao forte que faz com que vc mantenha por muito tempo ainda depois do filme aquele nó na garganta.

    até os atores secundarios como o ladrao na praia…cara…acho que nunca senti tanta pena de alguém como senti desse cara.

    e onde acharam aquele muleki?! mermao, esse merecia um oscar!! a cena da despedida…q fooooda!!

    destaque para “a chama”

    =)

  2. Ótimo filme e ótima crítica!

    Diferente do que já se tornou um padrão para mim, assisti ao filme primeiro e depois vi a sua crítica Aldo (apenas porque o filme foi indicação de um amigo! se bem que havia esquecido que ele havia me indicado Os Homens que Encaravam Cabras).

    E ao começar a ler o comentário do Saullo, achei até que era um comentário meu rsrs…
    Digo isso pois sou um grande fã de filmes em que algum problema aconteceu e tudo esta perdido…

    Acredito que o grande diferencial seja a beleza e profundidade com que o drama é mostrado.
    Ótimo filme!

  3. Angustiante! A definição não é minha, e sim de minha esposa. E concordo em gênero, número e grau. Chega quase ao estado sólido a falta de esperança do mundo ao redor. Charlize, que deve ter até a alma bonita, mostra que justamente esta esperança é algo sem sentido, e não está em seus planos “sobreviver”, para ela viver com medo, fome, isolada, com a família definhando bem diante de seus olhos, não vale a pena. Vigo e Kodi são o contraponto, o pai se agarra ao filho como o único fio de esperança que lhe resta, e este é quem se esforça para manter o pai são e “bom”, demonstrando assim, e ratificando com suas próprias palavras, que é justamente o menino “que tem que se preocupar com tudo”. O filme é tão rico que um comentário mais longo se tornaria chato, vale muito a pena, e de intenso medo quando se pergunta, e se fosse com você?

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