Crônica sobre o Cinema Brasileiro

Um jornal me pediu para escrever uma crônica sobre o Cinema Nacional e os caminhos a seguir. Como já foi publicado, coloco no site.

Comentem, ok?

Ao sair de uma sessão de um filme brasileiro, é impossível para qualquer amante da arte deixar de compará-lo com o que se faz lá fora. E é raro quando essa análise traz o mérito para nosso lado. E olha que nos últimos anos o Brasil presencia um boom do seu cinema. Mas será que os nossos cineastas estão mais criativos ou é apenas fato de que a produção nacional é feita de clichês em escala industrial, com alguns filhos bastardos no melhor dos sentidos, tal qual “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite“?

Para entender um pouco do que aconteceu temos que voltar à década de 40 no auge da Atlântida Cinematográfica e da Vera Cruz. Até essa época, os cineastas brasileiros tinham calcado seu conhecimento no cinema americano, principalmente quanto a roteiro e fotografia. Víamos as pérolas de Mazzaropi, engraçadas até hoje, junto com os astros da Atlântida: os comediantes Grande Otelo e Oscarito, os galãs Cyll Farney e Anselmo Duarte e os cantores Sílvio Caldas e Emilinha Borba, entre outros, a maioria vinda da rádio.

Após o último suspiro das produtoras, ainda houve uma tentativa quase bem sucedida de revitalização na década de 60, com grandes cineastas como Glauber Rocha, Cacá Diegues e Ruy Guerra, até que, com a ditadura militar, o Estado cada vez mais afetava a criação, ao mesmo tempo em que grandes talentos começavam a escoar para a recente televisão.

Com a criação da Embrafilme em 1969, o que seria uma evolução da indústria cinematográfica no Brasil, começou com a criação da pornochanchada, dividindo esse tipo de gênero com os infantis comandados pelos Trapalhões. Apenas Bruno Barreto, com “Dona Flor e seus Dois Maridos“, e Hector Babenco, concebendo seu “Lúcio Flávio“, seriam as grandes exceções da época, juntamente com Cacá Diegues.

Amargando a década de 80 no ostracismo, somente em 1992 com a Lei do Audiovisual, o Brasil veria seu cinema ocupar um lugar no entretenimento. Só que nesse momento, a maioria dos cineastas nacionais, já tinham sua experiência calcada na televisão, mais precisamente nas novelas. Mesmo sendo um produto segmentado para a população brasileira, transpor o formato televisivo para a tela grande dificilmente deu bons resultados.

De lá pra cá, o Brasil reveza em sua maior parte num cinema ainda engatinhando por culpa do capenga formato novelesco e algumas obras vindas justamente de uma turma de agências de publicidade, vídeo clipes e outras áreas não contaminadas pela TV. Dessa turma destacam-se Fernando Meirelles, José Padilha e, do outro lado, tradicionais Walter Salles e Hector Babenco ainda na ativa.

O que nossos destaques fazem é pensar globalmente para fazer o dever de casa no Brasil. E por isso, o maior mérito deles é ser exportado para Hollywood, como Meirelles fez com seu brilhante “O Jardineiro Fiel”, Salles fez com seu fraco “Água Negra” e o ator Rodrigo Santoro está fazendo com uma exposição cada vez maior lá fora.

Estamos progredindo? Com absoluta certeza. Mas ainda em passos lentos. O cinema nacional, para sair desse ciclo vicioso, precisa de roteiros bem tratados que fujam do formulaico, diretores que fujam do novelesco, produções que fujam de temas já tão batidos e investimentos que dêem recursos para que nossos cineastas parem de pensar pequeno. Pensar grande e fazer grande é o caminho que, para o bem da arte, o cinema nacional deve seguir.

CONFIRA TAMBÉM