Casa de Dinamite (“A House of Dynamite”)

Lembro de duas grandes injustiças do Oscar (na minha opinião): uma das mais famosas foi em 1999 com a somente boa comédia “Shakespeare Apaixonado” tirando o Oscar de “O Resgate do Soldado Ryan” em melhor filme e em melhor atriz, fazendo a nossa diva decana Fernanda Montenegro em “Central do Brasil” perder para Gwyneth Paltrow.

Em 2010 o fraquíssimo “Guerra Ao Terror” de Kathryn Bigelow conseguiu raspar as premiações, tirando o Oscar de melhor filme de produções como “Bastardos Inglórios”. A diretora faz filmes muito melhores, apesar de quase nunca ter saído da temática de guerra.

Agora ela parece ter voltado as origens de uma pobreza narrativa transfigurada em abordagem inovadora para contar uma história que tinha tudo para funcionar, não fossem as licenças poéticas e subjetivas que Bigelow quis empurrar goela abaixo do espectador.

A história se passa nos 20 minutos em que um míssil nuclear é detectado vindo de remetente incerto para cair em solo americano e é o tempo que resta enquanto todas as agências de inteligência americanas e o presidente se mobilizam para a) tentar parar o míssil antes que cause uma catástrofe; b) descobrir qual país enviou e sua motivação e c) contra-atacar ou não.

A pretensa sacada narrativa é que os mesmos 20 minutos são repetidos várias vezes sob pontos de vistas de diferentes personagens. A sacada é ótima quando cada personagem em seu ponto de vista, ajuda a juntar as peças do quebra-cabeça da história, agregando algum tipo de construção narrativa que vai culminar num desfecho onde o público enfim enxergue o cenário completo.

O problema é que o desenvolvimento vai na contra-mão: seja na primeira leva dos 20 minutos, seja na última, praticamente nada é acrescentado, como se todas as “rodadas” não servissem para nada além de “fazer o espectador ver a mesma coisa de outro POV”.

Lógico que precisamos dar o braço a torcer que o esforço técnico para fazer várias filmagens com personagens diferentes para que as quase 2 horas de filme se encaixe na narrativa de 20 minutos é de uma proeza técnica extremamente competente e logo se vê que é uma produção de primeiro nível (pelo menos técnico).

O elenco está ótimo, inclusive artistas geralmente relegados a coadjuvantes que aqui tem mais espaço (há uma única cena dramática no final com Jared Harris que merece todo o respeito).

Fora isso, a produção termina sem terminar, como uma piada sem punch line e, mesmo que haja sequer algo para refletir, o filme é conduzido involuntariamente para que se tenha pouquíssima empatia com quaisquer personagens ou com os potenciais afetados com o míssil, caso chegue ao seu destino e exploda.

O hype de “Casa de Dinamite” é inexplicável, a não ser pelo disfarce narrativo para tirar atenção do fato de que em quase 2 horas não se tem história para 20 minutos.

Curiosidades:

  • A narração do trailer é feita pelo falecido Carl Sagan tirada do seu áudio book de 1994, “Pálido Ponto Azul”.
  • As cenas sobre a encenação anual da Batalha de Gettysburg são verdadeiras, ocorrendo seu evento anual em 2025.
  • As cenas no Alasca foram filmadas na Islândia.
  • Segunda vez que Idris Elba interpreta um chefe de Estado. Aqui o Presidente dos EUA e na comédia “Chefes de Estado”, o Primeiro Ministro da Inglaterra.
  • Há uma cena em que se diz que a probabilidade de um míssil interceptar outro nas condições do filme é de 61%. Na verdade o cálculo para essa situação já foif feito e o correto é 55%
  • As cenas na Casa Branca foram feitas num Museu de Golfe que a produção não revelou qual foi (há vários nos EUA).

Ficha Técnica:

Elenco:
Idris Elba
Rebecca Ferguson
Gabriel Basso
Jared Harris
Tracy Letts
Anthony Ramos
Moses Ingram
Jonah Hauer-King
Greta Lee
Jason Clarke
Malachi Beasley
Brian Tee
Brittany O’Grady
Gbenga Akinnagbe
Willa Fitzgerald
Renée Elise Goldsberry
Kaitlyn Dever

Direção:
Kathryn Bigelow

História e Roteiro:
Noah Oppenheim

Produção:
Kathryn Bigelow
Noah Oppenheim
Greg Shapiro

Fotografia:
Barry Ackroyd

Trilha Sonora:
Volker Bertelmann

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